quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Disfunções sensoriais no TEA







 As disfunções sensoriais estão presentes na maioria das pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), ocorrendo 45% a 96% dessas pessoas. Os casos são únicos e complexos e variam conforme o indivíduo.
Estudos apontam que entre 56% a 80% das pessoas no TEA apresentam sinais de hipersensibilidade sensorial (HS), também chamada de defensividade sensorial. Pessoas com defensividade sensorial experimentam os estímulos sensoriais de formas negativas e distintas entre si. Ou seja, uma sensação considerada normal e tolerável para uma pessoa neurotípica pode ser considerada como estímulo aversivo para um autista, gerando angústias e sofrimentos.
Crianças com disfunções sensoriais táteis na boca ou gustativas, por exemplo, podem apresentar atraso de fala e/ou desenvolver problemas em sua dieta. Uma pessoa hipersensível a estímulos auditivos, olfativos e visuais se sentirá desconfortável de uma forma tão grande que muitas vezes preferirá permanecer em casa ao invés de andar por uma cidade, visitar familiares ou ir a eventos com várias pessoas.
Estímulos táteis considerados aversivos podem reprimir a socialização de forma considerável ou desencadear estereotipias. Em alguns casos, movimentos repetitivos podem ser uma forma de buscar alívio de sensações aversivas causadas pela HS. No entanto, nem todas as disfunções sensoriais causam problemas comportamentais, ou seja, movimentos repetitivos também ocorrem na ausência de hipersensibilidade sensorial. Os efeitos negativos de HS em pessoas com autismo podem causar estresse não só para os pacientes, mas também para suas famílias.
Portanto, é necessário identificar e tratar de forma precisa as pessoas com disfunções sensoriais. Profissionais de Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia podem oferecer grande contribuição a essa população, através de terapias individualizadas. Estudos demonstram que intervenções sensoriais desenvolvidas por terapeutas ocupacionais em crianças no TEA trazem um ganho significativo na socialização e melhoria dos cuidados pessoais.
Alguns cientistas têm se dedicado a entender as disfunções sensoriais no TEA, o que ocorre no sistema nervoso e os genes relacionados. Já se sabe que pessoas com disfunções sensoriais apresentam alterações em substância branca do sistema nervoso central (que representa as fibras nervosas que conectam os neurônios e estabelecem suas ligações) de formas diferentes das pessoas no TEA, que não manifestam algum tipo de problema sensorial.
Recentemente, alguns genes foram relacionados à hipersensibilidade sensorial e autismo em modelo animal. Genes envolvidos no TEA, como MECP2, GABBR3, SHANK3 e FMR1, foram associados a problemas na discriminação tátil e hipersensibilidade tátil. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Harvard alteraram camundongos geneticamente, de forma específica no sistema nervoso central ou apenas nas terminações nervosas da pele no sistema nervoso periférico. Esses animais foram submetidos a testes comportamentais e sensoriais. Os resultados mostraram que animais sem os genes MECP2 ou GABBR3 nos nervos da pele apresentavam ansiedade e déficit de interação social. Esses dois genes participam de um processo chamado “inibição pré-sináptica”, importante nas interações neuronais para evitar estimulações excessivas desreguladas nos neurônios.
Outro dado interessante desse estudo é que animais submetidos às mesmas alterações genéticas em MECP2 e GABBR3, mas na fase adulta, não apresentaram problemas de socialização ou ansiedade, apesar de demonstrarem os mesmos problemas sensoriais. Isso sugere (e colabora com outros dados clínicos) que um padrão sensorial tátil saudável na infância é importante para o desenvolvimento cerebral e o aprendizado de interações sociais e comportamentais.
As disfunções sensoriais prejudicam a maneira com que as pessoas no TEA interpretam o mundo físico ao seu redor e podem alterar o curso de vida. Entender essas condições de saúde que afetam pessoas no espectro do Autismo é muito importante para a qualidade de vida não só delas, mas também de seus familiares e da sociedade como um todo.


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