segunda-feira, 8 de março de 2010

TOXINAS CAUSAM AUTISMO?

O autismo foi identificado pela primeira vez em 1943 num nebuloso jornal médico. 
Desde então, ele se tornou uma aflição assustadoramente comum.
Os Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos reportaram recentemente que distúrbios do autismo hoje afetam quase 1% das crianças.
Nas últimas décadas, outros distúrbios do desenvolvimento também parecem ter se proliferado, junto com certos tipos de câncer em crianças e adultos.
Por quê? Ninguém sabe ao certo.
Essas condições constituem um enorme fardo à saúde.
Suspeitas de que um culpado disso seriam substâncias químicas no ambiente estão ganhando corpo.
Um artigo publicado online no jornal médico Current Opinion in Pediatrics torna isso explícito.
O artigo cita "estudos historicamente importantes e de prova de conceito que especificamente ligam o autismo a exposições ambientais sofridas no pré-natal".
O texto diz que "a probabilidade é alta" de que muitos químicos "tenham potencial de causar danos ao cérebro em desenvolvimento e produzir distúrbios neurológicos e de desenvolvimento".
O autor não é um excêntrico natureba, mas o próprio Dr.
Philip J.
Landrigan, professor de pediatria da Mount Sinai School of Medicine, em Nova York, e presidente do departamento de medicina preventiva da faculdade.
Embora seu artigo esteja repleto de linguagem cautelosa, Landrigan me contou que está cada vez mais confiante de que o autismo e outras condições sejam, em parte, resultado do impacto de químicos no cérebro enquanto ele está sendo formado.
"O centro da questão é o desenvolvimento cerebral", disse ele.
"Se os bebês são expostos ainda no útero ou logo após o nascimento a químicos que interferem no desenvolvimento do cérebro, as consequências duram a vida toda".
Preocupações envolvendo toxinas no ambiente costumavam ser uma visão marginal.
Porém, o alarme está se direcionando ao mainstream médico.
Toxicologistas, endocrinologistas e oncologistas parecem ser os mais preocupados.
Uma das incertezas é em que grau o aumento reportado no autismo simplesmente reflete um diagnóstico mais comum do que antes poderia ser chamado de retardo mental.
Há componentes genéticos para o autismo (gêmeos idênticos têm maior probabilidade de compartilhar o autismo do que fraternos), mas a genética explica apenas cerca de um quarto dos casos de autismo.
Suspeitas de toxinas surgem em parte porque estudos descobriram que grupos desproporcionais de crianças desenvolvem autismo depois de terem sido expostas no útero a medicamentos como talimida (sedativo), misoprostol (remédio de úlcera) e ácido valpróico (anticonvulsivo).
Das crianças nascidas de mulheres que tomaram ácido valpróico no início da gravidez, 11% eram autistas.
Em cada caso, os fetos parecem mais vulneráveis a essas drogas no primeiro trimestre da gravidez, às vezes apenas algumas semanas após a concepção.
Um estudo revisado por pares e publicado este ano no Environmental Health Perspectives nos trouxe uma ideia dos riscos.
Pesquisadores mediram os níveis de químicos suspeitos chamados phthalates na urina de mulheres grávidas.
Entre as mulheres com maiores níveis de certos phthalates (aqueles comumente encontrados em fragrâncias, xampu, cosméticos e esmalte de unha), seus filhos tiveram maior probabilidade de apresentar, anos depois, comportamento perturbado.
Honestamente, esses temas são difíceis para um jornalista.
A evidência é técnica, fragmentada e conflitante, e há o perigo de sensacionalizar os riscos.
A disseminação do medo de que a vacina causa autismo - uma teoria desacreditada - talvez tenha tido a consequência catastrófica de diminuir o índice de imunização nos Estados Unidos.
Por outro lado, no caso de grandes perigos à saúde dos tempos modernos - mercúrio, chumbo, tabaco, asbesto - os jornalistas foram lentos demais em apertar o botão de alerta.
Na questão da saúde pública, nós da imprensa temos sido mais cães de companhia do que cães de guarda.
Numa época em que muitas pessoas ainda usam recipientes de plástico para colocar alimentos no micro-ondas, empalidecendo toxicologistas, precisamos acelerar a pesquisa, a regulamentação a e proteção ao consumidor.
"Há doenças que estão aumentando na população sem causa aparente", disse Alan M.
Goldberg, professor de toxicologia da Bloomberg School of Public Health da Johns Hopkins University.
"O câncer de mama, de próstata e o autismo são três exemplos.
O potencial é que as doenças continuem aumentando devido à presença de químicos no ambiente'.
O princípio da precaução sugere que nós deveríamos ter cuidado com produtos pessoais como fragrâncias, a não ser que eles sejam livres de phthalate.
E faz sentido - particularmente no caso de crianças e mulheres grávidas - evitar a maioria dos plásticos com indicação 3, 6 e 7 no fundo da embalagem, pois são aqueles associados a toxinas potencialmente prejudiciais.


© 2010 New York Times News Service Tradução: Gabriela d'Ávila

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